Olho pela janela do meu pequeno quarto, vejo crianças brincando; lembro de minha infância e como tudo era mais fácil e inocente. A manhã está fria, sinto-me cansada, estou a dias sem dormir. Lembro-me da minha mãe e como era bom a ter por perto; seus conselhos e suas carícias.
Hoje tenho apenas para me consolar uma xícara de café e um cigarro, minhas mágoas estão todas escritas aqui, num diário velho e surrado. Minhas noites não tem sido as melhores, às vezes machuco-me e me sinto suja, sempre com a mesma meia preta e as botas de cano alto. O pouco dinheiro que ganho mal consigo viver, vivo de migalhas e carícias alheias, tudo sem amor e sem importância.
A noite passada foi confusa. Meus cabelos em desalinho; comecei a me maquiar, passei cuidadosamente meu batom vermelho, a mesma saia plissada, o corpete gasto e as botas de cano alto. Antes de sair de casa drogo-me um pouco para agüentar mais uma noite, acendo meu cigarro e vou para o mesmo lugar de sempre, fico a espera de alguém, mas sem expectativas. Logo adiante avisto um carro que vem em minha direção, abre o vidro e conversamos. Entro no carro e trocamos olhares; sem sentimentos. Vamos para um lugar onde não há ninguém, tentei conversar um pouco, mas a única coisa que ele disse foi o seu nome... Lucas.
Lucas aparentava ter uns 34 anos, com um olhar marcante e certo mistério, estava em busca de algo, mas não precisava estar ali naquele momento comigo. Lucas tenta uma aproximação; um sinal de beijo. Me esquivo e digo que não. Ele ficou meio sem graça, aquilo não era normal para mim. Além de deixá-lo sem graça fiquei também, pois percebo que talvez ele esteja à procura de algo além de sexo.
Ele olhou em meus olhos e parecia que lia meus pensamentos, preferiu ir embora ao fazer algo que pudesse se arrepender. Deixou-me no lugar onde nos encontramos, quis me pagar, mas recusei... Quis sair do carro e ir embora, ele me segurou e disse para aceitar o dinheiro. Pensei por um momento e resolvi aceitar, pois tinha que sobreviver. Saí do carro. Antes dele ir embora, nossos olhos se encontraram; talvez por uma última vez. Decidi ir embora, ainda meio confusa por tudo que fiz e por tudo que tinha que acontecido. Andei pelas ruas pensando até chegar a minha casa. Subi para meu quarto, fui até o banheiro, lavei meu rosto, olhei para o espelho e fiquei aliviada. Pois por essa noite a Bett tinha acabado.
Cindy e Enrique

WoW!! Ótimo texto! Passa certas emoções da personagem.
ResponderExcluirUm escrito não escolhe um gênero, é o gênero que o escolhe. E é o conto o gênero mais rebelde, mas insociável, mais exigente, mais desanimador, pois não se dá a qualquer um e nem escolhe por escolher. A prova disso? Acabei de ler. Um conto que é a densidade no exercício do incomum, que para mim, foi o ser não sendo, o dizer, desdizendo, o escrever ao calar, e o silenciar só escrevendo. De maneira talentosissima, a transmissão de sentimentos foi alcançada.! Parabéns. Muito bom! Sucesso no blog. =D'
ResponderExcluirwww.diiegopauliino.blogspot.com
Muito obrigada! Escrever é uma terapia! A cada dia que escrevo deixo tudo que há em mim sair e se fazer em contos, poemas, poesias, etc... ;]
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